Apenas 4,7% das startups são fundadas por mulheres

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Empreendedorismo feminino: estudo revela que participação da mulher ainda está aquém do que poderia, entenda. (Imagem: Freepik)

Female Founders Report 2021 – liderança feminina e empreendimentos no ecossistema brasileiro de inovação, estudo realizado pelo Distrito, em parceria com a B2Mamy – empresa que capacita e conecta mães ao ecossistema de inovação, e com a rede de empreendedores Endeavor, mostra que, apesar de representar mais da metade da população brasileira, no total, apenas 4,7% das startups são fundadas exclusivamente por mulheres. No empreendedorismo tradicional, essa porcentagem é de 46,2%. Isso mostra que o empreendedorismo da inovação é um ambiente ainda restrito à presença feminina.

Olhando para os setores, a moda “FashionTech” possui a maior presença de mulheres fundadoras entre as startups brasileiras, seguido por RH e Gestão de Pessoas e Negócios Sociais. Por outro lado, os setores com menor representatividade feminina na fundação são: Jurídico, 6,7% de participação, Gestão & TI, 5,1%, e Indústria, 4,8%.

(Imagem: Divulgação)

A liderança feminina gera um impacto em todo o quadro societário das empresas. A pesquisa mostra que a existência de, pelo menos, uma mulher (co)fundadora, faz com que a presença de mulheres no quadro societário seja de 54,6%, enquanto essa falta de liderança retrata uma porcentagem de 16,4%.

Uma pesquisa feita pela Kauffman Fellows em 2019 mostra que o impacto da liderança feminina vai além do quadro societário e que empresas com essas lideranças empregam seis vezes mais mulheres que times compostos apenas por homens fundadores.

Em entrevista ao portal Distrito (instituição que realizou a pesquisa), Ana Fontes – fundadora e presidente da Rede e do Instituto Rede Mulher Empreendedora (RME), apontou dificuldades no começo da sua carreira como empreendedora:

“Quando decidi empreender, há quase 15 anos, decidi também ajudar outras mulheres que, como eu, procuravam seus objetivos pessoais, mas não tinham referência em um ecossistema dominado pela visão masculina dos negócios”, comentou.

Olhando para o setor financeiro, mesmo tendo 8,1% das startups com (co)fundadoras mulheres, há categorias menores com nenhuma iniciativa fundada por elas, como soluções de câmbio e de cartão.

Para Andrezza Rodrigues, fundadora e CEO da HerMoney, a gestão financeira deve ser acessível pois é fundamental para representatividade no empreendedorismo.

“Trabalho há mais de 10 anos com gestão financeira de empresas. Mas a vida não é só trabalho e, em paralelo a minha vida profissional, sempre estive envolvida em projetos de mulheres. E nessas vivências sempre surgia a fala: ‘ah, finanças é muito difícil então deixo para meu marido/irmão/primo/amigo fazer por mim’. Essa fala doeu tanto no meu ouvido que a HerMoney precisou nascer para mostrar para mulheres que as suas finanças são uma das maiores ferramentas de autonomia e por isso precisam ser geridas pelas próprias”, ressaltou.

Modelo de negócio

O relatório aponta também que empresas fundadas por mulheres são, ligeiramente, de menor porte em comparação ao ecossistema. Aproximadamente 80% tem até 20 funcionários. Porém, ao analisar o grupo de scale-ups – empresas que crescem cerca de 20% ao ano – a média de funcionários em empresas com (co)fundadoras é de 56, sendo que 41% estão na faixa de 201-500 funcionários.

A prestação de serviço online é o modelo mais comum entre os negócios. Com margem percentual próxima, em segundo e terceiro lugar, estão os modelos “direct-to-consumer” (produtos ofertados em plataforma e-commerce, diretamente para o consumidor final) e “software-as-a-service”.

Entre os desafios enfrentados por essas mulheres, 60% relatou dificuldade em escalar o negócio. Além disso, também reportaram desafio na validação do modelo, ter boas conexões, operação do negócio, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e dificuldade em captar crédito ou capital com investidores.

(Foto: Divulgação)

Perfil da maioria é de brancas heterossexuais

Sobre o perfil dessas (co)fundadoras, o relatório aponta que, apesar de 56% dos brasileiros se declararem negros, tal proporção não está refletida na composição do quadro, com apenas 5,8% dessas empreendedoras se declarando negras, 13,3% pardas, e 3% amarelas.

Em relação à orientação sexual, quase 90% das fundadoras afirmaram ser heterossexuais.

Na composição familiar, quase metade das respondentes da pesquisa afirmaram não ter filhos. Em contrapartida, no mercado tradicional, a parcela de mulheres com filhos é maior. Entre as fundadoras mães, mais de 30% indicou a não-participação parcial ou total do parceiro na criação dos filhos.

“Por anos li pesquisas da Mckinsey que trazem dados que comprovam que as empresas com diversidade são as mais lucrativas, mas quero ir um pouco além disso: investidores e fundos que deixam de investir em negócios liderados por mulheres e especial as negras, perdem a chance de ter um portfólio diverso e com altíssimo potencial de ganhos, inovação e sustentabilidade”, ressaltou Fernanda Ribeiro, co-fundadora e CCO da Conta Black.

Investimentos

Apesar de serem 4,7% do ecossistema, startups fundadas só por mulheres receberam apenas 0,04% do total aportado em 2020. Em 2010, nenhum volume de capital foi destinado às mulheres empreendedoras, o que mostra uma evolução lenta do acesso ao capital.

O estudo afirma que isso ocorre por diversos fatores, entre eles a desigualdade de gênero dentro da indústria de venture capital e alocação desigual de capital entre empresas lideradas por homens e mulheres.

Uma outra pesquisa, realizada pelo Techcrunch com 180 empreendedores e 140 venture capital, mostra que no processo de análise de investimentos há uma predominância de formulação de perguntas nas entrevistas com um viés mais negativo para as mulheres do que para os homens.

Iniciativas

Algumas iniciativas tentam mudar essa realidade, como é o caso do #ElaFazHistória – programa oficial do Facebook para empoderar mulheres com espírito empreendedor, #EuSaltoAlto – Escola de Negócios para Capacitação e Desenvolvimento de Mulheres Empreendedoras, BDMG – linha de crédito para micro e pequenas empresas com controle majoritário de mulheres, entre outras.

Para acessar o relatório completo e ver a lista das diversas iniciativas, hubs, programas de aceleração e venture capital que buscam capacitar, apoiar e profissionalizar as mulheres empreendedoras clique aqui.

Com informações GPS | Lifetime

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