O aumento dos custos de produção de produtos no Distrito Federal, Brasil e mundo e as altas taxas inflacionárias, pesaram no bolso dos cidadãos e forçaram os brasilienses a adotar novas práticas nas compras em supermercados da capital, sempre pensando na maior economia possível diante do crescimento nos preços das mercadorias. As soluções encontradas vão desde as mais simples, como o não consumo de determinados produtos, até a mudança de preferências, trocando os itens.
Marta Rita, de 37 anos, por exemplo, ao invés de fazer as compras mensalmente, passou a ir ao supermercado toda semana para acompanhar as variações dos preços de perto e não ser surpreendida por alguma alta inesperada.
“Os valores têm aumentado muito. E decidi comprar as coisas mais baratas e mais em conta. Quando vamos no mercado, as coisas estão com um preço em um dia e no outro já aumentou”, relatou a consumidora.
Ela estava no Comercial Reis Supermercado, no Paranoá, buscando as melhores opções, entre outros, de produtos de limpeza e carnes, mudando as marcas e os tipos que costumava consumir antes. Com o mesmo objetivo de diminuir o impacto da alta nos preços do gás de cozinha, ela busca melhores formas de uso do recurso.
Com a expectativa de que o governo ajude na diminuição dos preços, ela entende a dificuldade no repasse dos preços aos consumidores pelos supermercados. “Eu tenho tentado evitar fazer carne cozida para não gastar tanto gás e fazer mais frituras – mas por outro lado o preço do óleo também aumentou. Então tem sempre que fazer um controle, dosando as compras”, destacou. Casada e com um filho, a atendente em restaurante é quem prepara a alimentação da casa.
A dona de casa Maria do Amparo Pereira, 59, se vê na mesma situação para equilibrar as contas e evitar a aquisição de produtos além do orçamento que possui mensalmente para o consumo em casa. O mesmo mercado também faz parte da rotina semanal dela e alguns itens foram excluídos da lista de compras. “Eu comprava mais frutas e hoje compro um pouco menos. O tomate, por exemplo, tem quase um mês que não comprei mais”, exemplificou.
Para driblar os preços, as marcas da farinha, do macarrão, do sabão em pó, entre outros, mudaram. A dona de casa também já não compra mais amaciantes nem carne vermelha – tudo por conta dos preços altos. “Agora compro mais ovo ou então frango. Está tudo muito difícil”, relatou. Dentro de casa, as dificuldades pessoais são os fatores que levam ao consumo mais consciente e regrado.
“Moro com uma irmã com problemas mentais e um filho desempregado. Não posso trabalhar porque tenho que cuidar da minha irmã. Estamos vivendo com o BPC [Benefício de Prestação Continuada] dela, que é um salário mínimo [R$ 1.100,00]”, explicou. “Graças a Deus, ainda não precisei cozinhar nada no fogo à lenha, mas estamos usando bem menos o fogão. Cozinhamos rápido e às vezes desligo o fogo antes e aproveito a quentura da panela para finalizar um arroz.”
Inflação crescente
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) indicou que, no mês de setembro, a inflação subiu 1,16%, sendo a maior variação para o período desde 1994. A inflação nada mais é do que o aumento generalizado dos preços de produtos e serviços, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No acumulado de 12 meses, a inflação teve alta de 10,25% em termos gerais. Já o aumento do preço dos alimentos que compõem a cesta básica é ainda maior: a inflação encostou em 16% no Brasil. Na prática, para as famílias com renda de um salário mínimo, a compra da cesta básica corresponde a 65,32% dos R$ 1,1 mil.
O presidente do Sindicato dos Supermercados do DF (Sindsuper), Gilmar de Carvalho Pereira, avaliou que a mudança de comportamento dos brasilienses nas compras tem sido constante e cada vez mais visível em Brasília.
“Nossa percepção é que muitas pessoas estão procurando gastar menos e comprar embalagens menores, ou produtos mais em conta, de marcas diferentes, para substituir o anterior”, afirmou.
Além das carnes, em que os consumidores passaram a migrar para as suínas e de frango, outros produtos em que Gilmar percebe a mudança de comportamento são os de limpeza, em itens como detergente e sabão, de acordo com ele. “É uma mudança que vem evoluindo aos poucos”, comentou. Assim, com as quedas nas vendas, as compras feitas para renovação de estoque nos supermercados também se adaptam.
Além das carnes, em que os consumidores passaram a migrar para as suínas e de frango, outros produtos em que Gilmar percebe a mudança de comportamento são os de limpeza, em itens como detergente e sabão. “É uma mudança que vem evoluindo aos poucos”, comentou. O IBGE indica que o aumento destes produtos em setembro foi de 1,06%. Assim, com as quedas nas vendas, as compras feitas para renovação de estoque nos supermercados também se adaptam.
Nas regiões de renda mais alta, a mudança de comportamento voltada para a economia também é notada. Christian Antônio, 35, subgerente dos supermercados Big Box, localizado no Jardim Botânico, relatou que as pessoas do bairro têm ido às compras justamente nos dias de promoções das quais Gilmar comentou. “O ticket médio diário tem diminuído, por exemplo, uma família costumava gastar mil reais em uma compra, mas agora, as pessoas têm dividido as compras”, afirmou Christian.
Existe um limite, porém, e as margens de lucro para manter o negócio se tornam cada vez menores, já que os próprios supermercados também sofrem com as altas nas taxas inflacionárias, conforme explicou Gilmar. “E estão faltando produtos também – as empresas não entregam mais nas mesmas quantidades, de forma que prejudica a balança entre oferta e demanda, que regula o setor. Esperamos que isso venha a normalizar em breve.”
Desemprego atrapalha
De acordo com o economista César Augusto Bergo, presidente do Conselho de Economia do DF, o descontrole de preços que gerou a inflação colabora para que o poder de compra dos brasilienses diminua, ainda mais diante dos índices de desemprego na capital. “Infelizmente, na prática, temos observado um aumento de preços abusivos que tem prejudicado as famílias. O cenário é de desemprego e, quando as pessoas conseguem um trabalho, o aceitam por salários menores” avaliou o especialista.
Há ao menos 304 mil desempregados no Distrito Federal registrados em agosto de 2021, conforme a Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED-DF), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).
“E, na seca prolongada de Brasília, os hortifrutigranjeiros foram prejudicados, o que exigiu um aumento dos preços. Além de tudo, teve a alta no combustível, que aumentou o custo do transporte”, elencou César. “Mais do que isso, as embalagens também usam materiais com origem no petróleo. Tudo isso, além do aumento do dólar, no geral, acabam produzindo números que não são alegria para ninguém”, acrescentou. “Prejudica as camadas mais pobres da sociedade – aquela chamada xepa acabou virando venda normal.”
Segundo ele, programas sociais adotados pelo Governo do DF, como o Cartão Gás, foram benéficos para manter e garantir os consumos pela população mais pobre da capital. “Mas isso não tira elas dessa necessidade, apesar do DF mostrar cerca recuperação do desemprego”, disse. O serviço público, por outro lado, é um fator que coloca Brasília em outra colocação quanto ao poder de compra da população e estabilidade financeira. Ainda por conta dos órgãos no DF, a constante circulação dos servidores – em especial neste momento de retorno às atividades presenciais – pode trazer melhores condições de vendas para autônomos que vendem em frente às instituições.
O estudo da PED mostra que, embora a taxa de desemprego tenha diminuído de 19,2% para 18,2%, entre julho de 2020 e de 2021, o número de desempregados cresceu, devido ao aumento de 137 mil pessoas no mercado de trabalho. A leve queda na taxa de desemprego ocorreu em decorrência de maiores ocupações nas áreas de serviços, comércio e reparação e construção; também ao crescimento do trabalho autônomo, emprego doméstico e das contrações com e sem carteira assinada.
Durante a apresentação da pesquisa pela Codeplan, Jusçanio Souza, gerente de pesquisas socioeconômicas da Codeplan, disse que no DF e na Periferia Metropolitana de Brasília, houve uma recuperação do nível ocupacional positiva, mas com ressalvas.
“Estávamos numa situação de desemprego elevada e esse desemprego vem se reduzindo – norteado, de certa forma, pelo aumento do nível ocupacional. Mas esse aumento se dá favorecendo um segmento do mercado de trabalho, como citado, o aumento do emprego doméstico, autônomo e do setor de serviços”, explicou.
Com informações Jornal de Brasília