Cruls Cervejaria: BsB no mapa da cerveja artesanal

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Lançada em 2017, a marca ajuda a trilhar os caminhos para a expansão da cerveja artesanal no Distrito Federal. (Foto: Mateus Vidigal)

No ano de 1892, um grupo de exploradores formou a Missão Cruls, responsável por desbravar e avaliar locais para a instalação de uma possível nova capital, prevista na Constituição de 1891. Saindo do sudeste brasileiro, a missão marchou rumo ao Planalto Central, onde foram mapeados diversos espaços, inclusive a área onde, no século seguinte, seria construída Brasília.

125 anos depois, Brasília seria mais uma vez colocada no mapa. E de novo pela Cruls. Dessa vez, contudo, estamos falando do mapa da cerveja – bebida tão culturalmente adorada pelo povo brasileiro mas até então pouco explorada dentro da capital. Isso aconteceu graças ao lançamento de diferentes fabricantes de cervejas artesanais, entre elas a Cruls, estabelecida em 2017.

(Foto: Mateus Vidigal)

Já com experiências na indústria graças a um trabalho na Ambev, os estudantes de Engenharia de Produção na Universidade de Brasília (UnB) Pedro Capozzi e Rodrigo Braga se uniram para um trabalho acadêmico, que veio a se transformar no projeto de uma nova cervejaria artesanal. Nos meses seguintes, Filipe Gravia se juntou à equipe, até que, após cerca de dez meses de planejamento, a marca foi lançada, no dia 28 de julho de 2017.

Até então sem espaço exclusivo, a primeira cerveja da Cruls foi produzida na fábrica da Gin Beer, em Vicente Pires. E o processo foi rápido: em abril de 2018, a equipe inaugurou a fábrica própria, em Santa Maria, onde, no primeiro ano, foram produzidos 10.000 litros de cerveja. Mesmo com a rapidez, conquistar o público nunca foi uma tarefa fácil.

Segundo Pedro Capozzi, convencer o consumidor já habituado às bebidas de grandes empresas a experimentar as versões artesanais é um desafio.

“Temos que conquistar muito espaço, há muito público para converter e fazer entender novos sabores e novos estilos. A cerveja é muito plural, não é só mais encorpada e alcoólica. O desafio é desenvolver público, fazer as pessoas apoiarem e migrarem o consumo da cerveja mainstream para a local”, explica o cervejeiro.

Outra grande dificuldade é garantir espaço na distribuição do produto. Pedro enxerga um excesso no número de bares e restaurantes com acordos de exclusividade com grandes empresas de cerveja, e que os estabelecimentos deveriam abrir suas portas para os produtores locais. O que torna positivo o mercado brasiliense, contudo, é uma mente aberta e a alta renda per capta de parte do público, que propicia o desenvolvimento das cervejarias artesanais.

Pedro Capozzi na fábrica da Cruls, uma das primeiras do ramo no DF (Foto: Mateus Vidigal)

Colocando Brasília no mapa

A fábrica da Cruls foi a terceira da bebida em Brasília. Hoje, já são 11. Quanto mais o mercado cresce, mais a concorrência se desenvolve e propõe novas mudanças, fato positivo especialmente para o consumidor, que encontra maior variedade na hora da compra. Pedro enxerga a persistência e o trabalho árduo ao longo destes cinco anos como compensadores:

“Acredito que colocamos Brasília no mapa. Como referência de cerveja artesanal, a Cruls se destacou muito, tanto que é a cervejaria mais premiada do Centro-Oeste. O público que acompanha essa tendência, esse nicho, já começa a ver a cidade aparecendo em concursos”, destaca.

Ele ainda cita outras cervejarias que se destacam na capital, como a 4 Poderes“Isso eleva a qualidade do mercado”, afirma. A Cruls já recebeu 21 prêmios ao longo de sua história. Entre eles, estão Ouro na Copa Cerveja Brasil 2018, com o rótulo Berliner Weisse Café; e Ouro no Concurso Brasileiro de Cervejas 2021, com a I Remember My First Check-In.

(Foto: Mateus Vidigal)

Hoje, todos os departamentos de produção da Cruls Cervejaria Artesanal foram internalizados. A empresa atua em toda a cadeia de suprimentos, objetivo alcançado após um longo período de testes, contratações e qualificações. “Na parte industrial, estamos formando os primeiros profissionais da área na cidade. Alguns se formaram em cursos como o de sommelieria, em cidades já inseridas no mercado, como Blumenau”, afirma.

A equipe já nota um aumento na ambição de estudantes e profissionais em trabalhar na área, devido ao desenvolvimento do mercado. Estudantes de química e de engenharia da UnB, por exemplo, já se mostraram interessadas em integrar o time.

E quem entra, entra com um voto de confiança. “Nossos funcionários acreditam no projeto. Tem gente que está conosco há mais de três anos, porque acreditam no desenvolvimento do mercado e no propósito da empresa, percebe Pedro.

(Foto: Mateus Vidigal)

A cerveja e o DF

O acesso aos atuais polos cervejeiros do Brasil, como no interior de Santa Catarina e na Serra Gaúcha, pode ser considerado difícil para grande parte da população dos diferentes estados. O empresário considera que o Distrito Federal é um espaço fantástico para o desenvolvimento do setor. Hotéis, aeroportos e toda a infraestrutura já disponível pode chamar a atenção de investidores e turistas.

Pedro imagina que, nos próximos anos, a cultura e o turismo cervejeiros do DF podem se destacar no cenário nacional com o apoio correto, de secretarias e da mídia. Além disso, uma forma que a Cruls encontrou para garantir parcerias e expandir seu alcance foi se unindo a marcas e produtores locais de outros ramos

Com a Belini Café, a cervejaria utilizou seu café torrado para a produção da Berliner Weisse; a Cruls também já foi até Formosa (GO), cujo baru beneficiado foi usado em outra receita. 

Para o futuro, a equipe produzirá uma cerveja da Castália, com pão na receita. O empreendedorismo local também é lembrado. A linha de cervejas Cosmos tem seus rótulos assinados por artistas locais, como tatuadores e designers de Brasília. Durante a pandemia, a Cruls abriu um site de ecommerce, no qual podem ser adquiridas as cervejas com entrega própria para o DF, além de promoções semanais e lançamentos.

Uma história de vanguarda e coragem: seja em 1892, seja em 2017, o pioneirismo é um valor que guiou os desbravadores da Cruls. Em ambos os casos, mostraram o potencial de Brasília e prometem abrir caminhos ainda inexplorados

Com informações GPS | Lifetime

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