A pandemia do novo coronavírus causou impactos significativos no mercado de trabalho, no comércio e nos empreendimentos de todo o planeta, inclusive nos que existem no Distrito Federal, de acordo com pesquisas recentes divulgadas por instituições, órgãos do governo federal e do Governo do Distrito Federal (GDF).
Antes da pandemia, o Boletim do Empreendedorismo divulgado pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan-DF) em 2019, calculou que cerca de 297 mil pessoas organizavam negócios e/ou empreendimentos no DF naquele momento, referente à 21,7% do total de ocupados, número superado apenas pelo segmento dos assalariados pelo setor privado, com 42,2% de ocupação.
Conforme o boletim Mapa de Empresas, lançado pelo Ministério da Economia referente ao 1º quadrimestre de 2021, o Distrito Federal foi a unidade da federação que apresentou o menor tempo de abertura de empresas nos primeiros quatro meses deste ano (1 dia e 11 horas), ainda assim, teve um aumento de 9,4% em relação a 2020. A Bahia tomou o primeiro lugar no ranking nacional com maior tempo de abertura de empresas (8 dias e 18 horas), com um aumento de 28% em relação ao ano anterior. Segundo o economista e presidente do Conselho de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), César Bergo, o distanciamento social – estabelecido como uma medida de prevenção à proliferação do vírus – mudou o comportamento dos consumidores e afetou diretamente o faturamento das empresas e também a abertura de novas.
Para se adaptarem à nova realidade, empreendedores e instituições financeiras tiveram que adotar novas práticas de trabalho, novos métodos de negociação, novas formas de entrega de produtos e de serviços. Antônio Carvalho, empresário brasiliense e dono do Restaurante Sagrado Mar no Lago Sul (DF), idealizou a abertura do estabelecimento em 2019 e a inauguração estava programada para o dia 21 de abril de 2020, no 60º aniversário de Brasília. Com a chegada da pandemia no Brasil os planos atrasaram:
“O que mais me incomodou foi não saber quando poderíamos abrir”, ele contou. O restaurante só foi liberado para funcionamento em setembro do mesmo ano e, segundo Antônio, as restrições contra a covid-19 causaram impactos no negócio: “Por mais que a vacinação esteja avançando, a movimentação não é grande, as pessoas têm medo. E em geral, o movimento de casas novas é naturalmente menor porque você ainda não conseguiu fidelizar o cliente”, aponta o empresário. A projeção e planejamento do empresário para 2020 mudaram completamente após a chegada da pandemia no país, mas para ele, “é melhor trabalhar com restrições do que não trabalhar.”
A dupla de empresárias Aline Cunha e Fabiana Lopes também abriu seu próprio negócio durante a pandemia: a clínica de estética Humanize, que foi inaugurada em maio de 2020, no Setor Tradicional de Planaltina (DF), perto do Hospital Regional da cidade. A ideia surgiu logo após Aline sair de seu antigo emprego e também teve seus empecilhos.
“Passamos muito tempo fazendo pesquisa de mercado e analisando dados da pandemia para saber o momento certo de inaugurar a clínica”, disseram.
Tem que ter coragem e disposição
Segundo o economista César Bergo, é fundamental saber com clareza os objetivos e ambições. “Para isso, é necessário criar um planejamento cuidadoso antes de atender o primeiro cliente e fazer cálculos de ponto de equilíbrio, para evitar problemas de fluxo de caixa”. Para fazer um negócio crescer e se manter ativo, mesmo em tempos de crise, César aconselha que os empreendedores monitorem constantemente seus progressos, analisem a concorrência e se adaptem às mudanças do mercado.
Antônio Carvalho, dono do Restaurante Sagrado Mar, acredita que as médias empresas recebem menos atenção que micro e grande empresas. Antônio esperou por anos, mas só conseguiu receber crédito do governo em julho deste ano e afirmou: “As grandes empresas conseguem crédito porque são influentes, as pequenas conseguem através das políticas públicas e as médias empresas são esquecidas”. Para ele, a agilidade para a concessão de crédito é essencial para diminuir as consequências econômicas deixadas pela pandemia. César Bergo, presidente do Corecon-DF comentou o assunto: “Foi constatado que é mais fácil captar recursos para um projeto que ainda irá se iniciar do que para aquele que está passando por dificuldades há meses. Por isso é necessário que o empreendedor elabore um plano de contingenciamento de risco, com uma previsão de fluxo de caixa para o pior cenário possível.”
Jael da Silva, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do DF (Sindhobar-DF) já realizou diversas denúncias sobre a dificuldade de obtenção de crédito por pequenas empresas, mas não teve sucesso. “Já tentei também diversas interferências com presidente de bancos, superintendentes e convênios, mas no fim, não sai o financiamento”, completou. De acordo com o presidente do Corecon-DF, César Bergo, as maiores dificuldades para conseguir crédito hoje em dia estão relacionadas à precariedade de informações cadastrais e contábeis, mas principalmente à problemas financeiros: “Na maioria das vezes, os bancos exigem que os empreendedores invistam uma parte significativa do capital próprio (geralmente 50%), só que muitos empreendedores não possuem esse recurso, e isso os distancia.”
Com informações Jornal de Brasília