E se ninguém te ouvisse?

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Falar sobre a terminalidade da vida demonstra que temos consciência de que somos mortais. Confira artigo de Ana Lobo. (Foto: Freepik)

A Morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver. A branda fala da Morte não nos aterroriza por nos falar da Morte. Ela nos aterroriza por nos falar da Vida.”

Rubens Alves


* Por Ana Lobo

A única certeza que temos na vida é que um dia vamos morrer, mesmo assim tem algo que nos impede de pensar nesse futuro certo. Se esse evento é inevitável, por que não falar desse tema?

Acidentes ou doenças graves podem levar a situações de saúde irreversíveis ou até mesmo terminais. Se você não disser como seu tratamento ou sua saúde devem ser conduzidos, qualquer um pode escolher por você. Muitos desconhecem, mas existe essa possibilidade.

Apesar da tranquilidade em falar do patrimônio conquistado durante a vida, há uma grande dificuldade quando se trata do nosso maior patrimônio: o corpo físico. É importante definir como você pretende ser cuidado diante da incapacidade de expressar essa vontade, seja porque foi acometido por uma doença ou sofreu um acidente de maior gravidade.

Sim, o assunto é delicado, mas precisa ser abordado. Falar sobre a terminalidade da vida demonstra que temos consciência de que somos mortais. A Covid-19, que assolou o mundo inteiro, deixou vários mortos e trouxe à tona certas questões sobre como o paciente quer ser cuidado. O enfoque principal é que decisões sejam norteadas pelo princípio da autonomia. Imagine um paciente que precisa ser entubado, mas esse não seria seu desejo. O que ele deveria fazer para que fosse obedecida sua vontade?

Apesar de inexistir legislação sobre a manifestação da vontade do paciente, na prática, a intenção de ter suas convicções e desejos respeitados tem ocorrido. Abarcando esse pensamento, o Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução 1.995/12, garante diretivas antecipadas da vontade do paciente, entendendo estas como o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade. As diretivas devem ser anexadas no prontuário do paciente.

Outra forma de expressar o que quer é por meio do testamento vital, que pode ser feito quando a pessoa ainda está no gozo de suas faculdades mentais para decidir o que deseja, se no futuro for impossibilitado de expressar suas vontades.

Vale lembrar que diretivas de vontade e testamento vital não são sinônimos. A primeira trata da saúde em geral enquanto o outro refere-se às escolhas no fim da vida.

Há muito mais a se falar sobre esse tema, mas a possibilidade de gerar uma reflexão acerca do assunto já é um grande começo para que as pessoas entendam a importância de registrar como querem ser tratadas quando não puderem se comunicar.

A morte pode ser vista como um mistério incompreensível, como um absurdo inaceitável, mas, seja como for, aceitemos isso ou não, a morte é uma realidade. Somos autores da nossa vida, fazemos várias escolhas, sejam profissionais, sentimentais, espirituais ou psicológicas, mas será que vamos escrever as últimas páginas desse livro?

*Ana Lobo – Advogada há 20 anos, membro da Comissão de Direito à Saúde da OAB-DF, pós-graduanda em Direito Médico e da Saúde

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