Muito utilizado para combater pragas na agricultura moderna, os herbicidas são agentes biológicos ou substâncias químicas que causam uma preocupação crescente sobre os impactos ambientais e à saúde humana. Esses produtos químicos podem persistir no ambiente, causando danos à biodiversidade. Estudo realizado pela estudante de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Brasília (CEUB) Letícia Guedes trouxe novas perspectivas na redução de agentes químicos presentes nos herbicidas utilizados na agricultura moderna.
Os fungos são organismos notáveis por sua habilidade de degradar uma ampla gama de substâncias químicas complexas, transformando moléculas difíceis em compostos menos tóxicos, processo conhecido como biorremediação. O estudo desenvolvido pelo CEUB buscou explorar a capacidade de fungos filamentosos em degradar herbicidas, especificamente os mais utilizados, como o glifosato e o ácido 2,4-Diclorofenoxiacético (Aminol), além de determinar seu potencial enzimático por meio do método do açúcar redutor e medir a dosagem de proteínas.
Para realizar o estudo, fungos filamentosos foram isolados das amostras de solo – uma próxima a uma área de conservação e outra próxima a áreas de cultivo agrícola – e testados em diferentes concentrações dos herbicidas glifosato e 2,4-D. Segundo o orientador da pesquisa, professor de Ciências Biológicas do CEUB, Cláudio Cerri, o estudo avaliou o crescimento dos fungos e sua capacidade de produzir enzimas para a degradação de matéria orgânica e vegetal, favorecendo um processo de sucessão após impacto por pesticidas.
“Buscamos selecionar microrganismos resistentes para biorremediação de herbicidas, com potencial para serem mantidos em laboratórios. Isso poderia ser útil em casos de derramamentos de pesticidas ou para acelerar a recuperação de áreas degradadas. A ação visa mitigar impactos ambientais danosos e favorecer a restauração mais rápida dos ecossistemas afetados”, afirma o orientador.
Enquanto os fungos filamentosos não demonstraram tolerância significativa ao glifosato, eles apresentaram uma notável tolerância ao aminol, com crescimento observado em concentrações de até 7% do produto. Foram detectadas atividades enzimáticas positivas para xilanase, amilase e celulase. O resultado indica que quando o fungo cresce nos defensivos agrícolas, como única fonte de carbono, é capaz de metabolizar os componentes dos defensivos agrícolas e produzir enzimas que decompõem a matéria orgânica vegetal, acelerando a ciclagem de todos os compostos associados com a prática agrícola.
Os achados do estudo apontam para um promissor potencial de aplicação dos fungos filamentosos na biorremediação de áreas contaminadas por glifosato e 2,4-D. Para o orientador Cláudio Cerri, a capacidade dos fungos em degradar esses herbicidas e a presença de atividades enzimáticas relevantes são indícios positivos para o desenvolvimento de estratégias de descontaminação ambiental mais eficazes e sustentáveis.
De acordo com Letícia Guedes, o principal benefício é saber que os fungos encontrados no solo têm a capacidade de serem utilizados como ferramentas de biorremediação, um processo que é mais simples e mais barato e pode levar à limpeza do ambiente. “Esse tipo de tecnologia é classificado como biotecnologia remediadora, com o objetivo de limpar ambientes degradados”, afirma.
A pesquisadora acrescenta que os resultados oferecem uma abordagem inovadora e promissora para lidar com um dos desafios ambientais mais urgentes da atualidade. “Os fungos são ótimos para muitas coisas, inclusive recuperação ambiental. Os próximos passos incluem a classificação dos fungos, isolamento e manutenção dos mesmos e testes que levem à formulação de uma biotecnologia que pode ser incluída no mercado”, completa.