Quase dois anos após a reviravolta imposta pela pandemia da Covid-19 na vida e rotina da sociedade, a forma de trabalho mudou. A partir de agora, não iremos nos apoderar dos espaços à nossa volta da mesma forma de antes. Uma pesquisa feita no fim de 2020 pela consultoria Robert Half com 1.500 executivos em quatro países, incluindo o Brasil, ouviu de 95% dos entrevistados que o modelo de trabalho híbrido, com rodízio entre home office e o escritório, é visto como uma alternativa permanente nessa realidade de pandemia. O mesmo estudo mostra que, se pudesse escolher, 62% dos trabalhadores não voltaria ao sistema presencial diário, e faria home office de uma a três vezes por semana.
Antenado à mudança de comportamento, o grupo de arquitetos que integra o agora escritório virtual da Norden Arquitetura já se adaptou. Com sede administrativa em Goiânia, desde maio de 2020, toda equipe da empresa trabalha de forma remota – a grande maioria no sistema home office – mas há quem adote um modelo de trabalho que promete ser uma tendência global: o anywhere office, ou ‘escritório em qualquer lugar’.
O arquiteto Paulo Renato Alves, sócio e fundador da Norden Arquitetura, é um dos que já carrega seu escritório no bolso por onde vai. “Eu, por exemplo, não preciso de escritório nem na minha casa. Meu escritório é um notebook, meu celular e uma webcam, ou às vezes só o celular”, afirma. Para Paulo Renato, estas novas formas de trabalho, o home office, o híbrido (parte presencial e parte home office) e o anywhere office, irão mudar a forma de pensar os espaços, especialmente os corporativos.
Como era antes?
Com mais de 20 anos de mercado e assinado mais de 6 milhões de metros quadrados de projetos em diferentes estados, Paulo Renato lembra que os ambientes corporativos nos anos 90 e 2000 seguiam mais ou menos um mesmo padrão de organização e concepção.
“Todo escritório era do mesmo jeito. Você tem, por exemplo, na década de 90, em que os escritórios basicamente eram a sala do chefe, dos diretores, dos gerentes e isso conforme a hierarquia dentro da empresa. Além do mais, eram espaços ainda muito formais e frios, Nos anos 2000, quando começaram a surgir as primeiras startups, essa concepção muda um pouco e os escritórios começam a ficar mais despojados, menos formais, mas ainda sim havia uma organização hierárquica, e tudo ainda era muito padrão”, explica o arquiteto.
Mas agora, num mundo pós-confinamento pandêmico, conforme afirma o arquiteto, a regra é não ter regra. “Home office ou anywhere são conceitos que já existem há um bom tempo, mas eram fora do padrão. Tudo que é tido fora do padrão ou que não é convencional as pessoas e empresas têm medo de encarar. E a pandemia nos mostrou outros modais de trabalho que também funcionam. Portanto, muitos falam que o novo sistema de trabalho será híbrido, outros dizem que será a maioria home office, e alguns falam no anywhere office, mas na verdade você terá de tudo, ou seja, não há mais um padrão”, avalia Paulo Renato.
Desconstrução
Para Paulo Renato, o grande desafio em pensar os espaços corporativos a partir de agora é a personalização. “Não será apenas uma mudança na organização dos ambientes, do mobiliário, da paleta de cores. Cada empresa terá seu modus operandi e o desafio da arquitetura moderna estará aí: pensar o ambiente de trabalho de forma única e, ao mesmo tempo, que atenda uma rotina da empresa que também é única, diferente de todas as outras”, afirma.
Ele explica, por exemplo, que uma empresa que optar pelo sistema híbrido terá mais espaço, porque não terá mais a necessidade de abrigar várias pessoas trabalhando simultaneamente num mesmo ambiente. E o espaço vago pode ser utilizado de várias maneiras.
“Ele pode colocar uma planta, fazer um escritório com mais cara de casa e fazer talvez uma sala de estar para as pessoas bater um papo. Não haverá um padrão para se planejar o espaço de trabalho, haverá as necessidades específicas de cada empresa”, detalha.
Paulo Renato afirma que essas novas formas de trabalho irão impactar, não só os escritórios, mas qualquer ambiente aberto ao público. “Agora teremos o desafio de pensar espaços para receber as pessoas para trabalhar, e ao mesmo tempo para terem o seu lazer, estabelecer suas convivências. Ao projetar os ambientes de um restaurante, por exemplo, o arquiteto tem que pensar que haverá um cliente que chegará mais cedo para um almoço de negócios e ele pode querer trabalhar lá. Aí está uma oportunidade”, sugere.