A decisão judicial que impediu o Governo do Distrito Federal de liberar a retomada de mais atividades suspensas pela pandemia do novo coronavírus frustou os planos de donos e funcionários de bares e restaurantes da capital. Após conversas animadoras com o governador Ibaneis Rocha (MDB), a expectativa do setor era de que fosse anunciada ainda nesta semana uma data para a volta dos negócios. A previsão era de que eles estariam de portas abertas entre 25 de junho e, no máximo, 1º de julho. Agora, terão que esperar a apreciação de recurso apresentado contra a liminar pela Procuradoria Geral do DF nessa segunda-feira (22/06).
Conforme carta de repúdio assinada por 28 entidades do setor produtivo contra a decisão judicial, divulgada pela coluna Grande Angular, do Metrópoles, o segmento de bares e restaurantes foi o mais prejudicado pela suspensão das atividades. Segundo o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar-DF), 20% dos estabelecimentos do DF não resistiram os três meses sem abrir as portas e fecharam definitivamente, causando a demissão de 30 mil trabalhadores e um prejuízo de R$ 750 milhões. Caso as atividades fiquem suspensas por mais tempo, estimam, o rombo chegará a R$ 1,8 bilhão.
Nesta terça-feira (23/06), às 10h, os donos de restaurantes e bares fazem manifestação em frente ao Palácio da Justiça.
A situação é dramática para quem ainda conseguiu se manter nos últimos 100 dias sem receber clientes. Na expectativa de o GDF reverter a proibição, empresários do setor fazem planos para o retorno. É o caso de Ricardo Luz, 35 anos, dono do Good Fellas Cinebar, em Taguatinga.
Apesar de achar ainda arriscado uma reabertura com números de infectados e mortos pelo novo coronavírus aumentando, ele diz que a necessidade de pagar as dívidas fala mais alto. “Já estou devendo cerca de R$ 40 mil para fornecedores, conta de luz e alguns funcionários também”, lamenta.
Segundo ele, o bar foi pego de surpresa com a necessidade do fechamento. Sem um delivery estruturado, Ricardo até tentou oferecer cervejas especiais e chopp artesanal pela internet, mas os pedidos foram poucos. “A gente não tinha essa experiência. Os aplicativos estavam tomando uma parte grande do que a gente vendia e, como nossos produtos são um pouco mais caros que a cerveja comum, muitos preferiram economizar nesse momento”, explica.
Negociando as dívidas
Para conseguir manter o bar vivo, foram várias as negociações. Ele conseguiu redução de 85% no valor do aluguel da loja e os contratos de trabalho dos funcionários foram suspensos. Com praticamente nenhum faturamento, Ricardo precisou transformar o hobby em profissão. “Minha saída foi a marcenaria. Tenho feito sob encomenda qualquer tipo de móvel que as pessoas precisam”, diz.
Com a possibilidade da volta, o bar ainda vai sofrer o baque de não poder contar com o carro-chefe da casa: a sala de cinema. “Vamos ter que deixar fechado. Ainda tenho outras três TVs, talvez consiga puxar uma para o lado de fora e passar os filmes assim”, avalia.
Outra mudança precisará ocorrer na maneira de dispor as mesas. Em vez de ter a maioria dos consumidores dentro do bar, a ideia é aproveitar o espaço externo.
Veja como o empresário tem se virado:
Outro tipo de estabelecimento que sofrerá grande mudança com a nova realidade é o popular self-service. Com a comida exposta e talheres únicos para todas as pessoas que se servem, a modalidade precisará inovar. Restaurantes que convivem com as opções de cardápio e buffet, como o El Paso e Haná, anunciaram que vão abolir a alternativa de o próprio cliente se servir neste primeiro momento.
Mas várias casas vão adaptar os serviços. No Serpentina Zero Grau, conhecido pelo almoço por quilo, a ideia é mostrar para o cliente quais são as opções e o funcionário do restaurante servirá o prato. “Já estamos funcionando assim com as marmitas. A pessoa fica do lado de fora e é o atendente que tem contato com a comida e a carne”, explica Jair Gasparin, dono da rede.
Volta com cautela
Entre os restaurantes à la carte, aqueles nos quais o pedido é feito pelo cardápio, adaptações que variam das mais simples às mais elaboradas acontecerão. Conforme conta o chef Gil Guimarães, 50, dono de restaurantes como a Baco Pizzaria e o Parrilla Burguer, será necessário, acima de tudo, ter cautela. “No momento, se puder reabrir a gente não vai funcionar a partir do primeiro dia”, garante.
Segundo Gil, é um momento de grande adaptação para todos e a sensação de segurança será o principal fator para o retorno da freguesia. “É um momento tão crítico quanto as primeiras duas semanas. Vamos observar bastante antes de qualquer coisa”, afirma. Ele chama atenção para os custos de uma iminente – espera – reabertura.
“Com o salão funcionando aumentam as contas de água, de luz e todas as outras despesas juntas. Quando se tem um local que recebe 100 pessoas é mais fácil de cobrir o gasto; quando se limita a 50, é difícil”, explica.
Além da limitação do público e de cuidados como medição de temperatura e disponibilidade de álcool em gel, o chef explica as outras mudanças planejadas. “O guardanapo, que era de pano, será de papel; o cardápio poderá ser acessado pelo celular e também vamos reduzir a oferta de pratos”, lista Gil Guimarães.
Tudo pronto
“Se não abrir ainda em junho, esse número de demissões deve aumentar ainda mais”, lamenta o presidente do Sindhobar-DF, Jael Antônio Silva. Segundo ele, o setor está pronto para voltar e os protocolos de segurança apresentados são os mesmos utilizados em outras partes do Brasil e do mundo onde houve a reabertura com sucesso. “Uso de máscaras, distanciamento e higienização são os nossos pilares”, garante.
Com informações do Metrópoles DF | Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES