Mercado de brechós cresce cada vez mais no DF

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Foto: Divulgação

Diante da crise provocada da pandemia de covid-19 nos últimos dois anos, um movimento conquistou um público significativo de praticantes: o consumo de segunda mão. De modo a buscar por peças mais baratas e exclusivas, as novas gerações têm recorrido aos brechós para garimpar itens usados mas que ainda estão em bom estado.

“Posso dizer que metade do meu guarda-roupas é composto por roupas de brechó, a outra metade por marcas que eu me identifico”, compartilha Gabriela Oliveira, de 29 anos.

Nesse contexto, os brechós se mostram cada vez mais procurados pelos consumidores e também são uma oportunidade para quem deseja empreender. Segundo um levantamento realizado pelo Sebrae, nos primeiros semestres de 2020 e 2021 houve um aumento de 48,58% na abertura de lojas que comercializam produtos de vestuário de segunda mão. 

No quadradinho, o aumento expressivo dos preços de roupas, calçados e acessórios impulsiona esse mercado no Brasil. Só no primeiro semestre deste ano, a demanda nos brechós cresceu em média 30%, e especialistas dizem que o segmento está longe do limite do seu potencial. Segundo pesquisadores americanos, esse mercado deve crescer de 15% a 20% por ano nos próximos cinco anos, ultrapassando o valor do setor de fast fashion até 2030.

Os números não mentem  

Em 12 meses até maio, os preços de vestuário acumularam alta de 16,08%, conforme o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O setor de vestuário registra a maior inflação desde 1995. A alta reflete o aumento dos custos de produção na indústria têxtil durante a pandemia, que desorganizou as cadeias de produção. O Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) projeta crescimento de 29,6% do volume de vendas dos brechós em 2022 e estima que o mercado de roupas usadas pode ultrapassar o varejo de moda em 2024.

Quem decidiu investir nesse negócio foi Nathália Dias, de 28 anos. A moradora de Sobradinho DF é dona do brechó 261, e conta que a ideia de embarcar nesse mercado surgiu ainda na faculdade de moda.

“Eu estava me formando na faculdade e meu projeto final foi todo baseado na abertura do brechó. Eu tinha um sonho de abrir meu próprio negócio assim que me formasse, então optei por seguir o caminho da moda sustentável”, relembra. Como conta a empresária, foi vendo a popularização desse ramo que a inspiração para seguir esse caminho nasceu. “Na época, eu sabia que em 2 anos o mercado iria crescer ainda mais”, menciona. 

Uma pesquisa do BCG (Boston Consulting Group) com quase 3.000 clientes de um brechó virtual chamado “Enjoei” aponta um potencial de R$ 24 bilhões para o mercado de moda seminova, na esteira de países com o setor mais consolidado, como os EUA, onde o mercado de roupas usadas representou US$ 36 bilhões em 2020. As vendas online foram o que fez o negócio de Nathália se firmar. “Foi depois da pandemia que o Brechó realmente cresceu. Quando o foco se tornou o online”, pondera. “Atualmente minhas vendas são 80% online, eu posto 1 dia na semana através do instagram”, acrescenta a responsável pelo 261, nascido em maio de 2019. 

Como compartilha a autônoma, comprar peças de segunda mão se tornou ‘tendência’.

“As pessoas estão deixando o preconceito de lado, e tirando a visão que só encontra em brechós roupas velhas, sujas. Além de encontrar peças únicas, você paga um preço justo e contribui com o consumo consciente”, avalia Nathália. 

Quem também decidiu se aventurar no ramo foi Jessica Lages Amorim. Aos 31 anos, ela é dona do A.MO Brechó, que surgiu em 2020. “O A.MO já pulsava em mim desde muito tempo, sempre vendi minhas roupas para amigas e colegas e na faculdade tive alguns projetos de brechós também. Me formei e trabalhei um tempo como Visual Merchandising de uma Fast Fashion nacional e lá dentro aprendi e me desenvolvi muito”, relata. 

Para a empreendedora, o DF abraçou a causa e, cada vez mais, impulsiona o mercado. “Temos brechós incríveis aqui na nossa cidade, tanto com lojas físicas quanto online, e aqui vale destacar as feiras que acontecem na cidade, onde podemos ver a moda circular acontecendo, e isso é lindo”, defende. “Nossa cidade é uma cidade nova, então estamos, devagarinho, abrindo os caminhos. O público que consome uma vez retorna, e se ele conhece um brechó e tem uma boa experiência de compra ele acaba se permitindo comprar em outros também, não tem como não se apaixonar por garimpar, costumo dizer que é um caminho sem volta”, diz a moradora de Águas Claras. 

Bethânia Mayara Vale também é uma candanga que enxergou no setor uma oportunidade. Idealizadora do brechó B ao Quadrado, a moradora de Sobradinho DF conta que seu negócio surgiu há mais ou menos uns 5 anos, mas, inicialmente, com intuito apenas de desapegar das roupas que ela não utilizava e, assim, ganhar um dinheiro para ocasiões pontuais. “Já a ideia de brechó como empreendimento surgiu concomitante a pandemia, há dois anos atrás, haja vista que com a suspensão do meu trabalho e da faculdade eu tive tempo para me dedicar”, expõe a empreendedora de 23 anos. 

Para ela, o brechó é um leque de oportunidades. “O brechó traz diversas possibilidades que muito dificilmente você encontra em outro local. Nele você consegue achar peças de diversos estilos, épocas e tendências”, comenta a empresária. “O brechó mudou completamente minha vida, eu me dedico por inteiro nesse projeto, sou apaixonada pelo o que faço e tento sempre dar meu melhor”, acrescenta Bethânia. 

Sustentabilidade

“Na pré-pandemia, a compra e venda de peças usadas já vinha em vertente de crescimento por uma mudança na forma de os consumidores se relacionarem com as roupas no guarda-roupa. Há uma preocupação global com a sustentabilidade que começou a se materializar em comportamento de consumo”, afirma Flávia Gemignani, responsável pelo relatório da BCG.

Para ela, o aquecimento recente no Brasil desse setor é reflexo da proliferação dos marketplaces, que atraíram os que se incomodavam com a experiência física de um brechó. 

A sustentabilidade, inclusive, é mais um dos fatores que levam Gabriela Oliveira a consumir peças de segunda mão. “Atualmente, é algo que eu defendo muito, envolve não somente o fator financeiro, mas questões de consumo consciente, moda circular e sustentabilidade”, diz. “O mundo já tem roupa demais, e pra que peça mais sustentável do que aquela que já existe, ne?”, pontua a jovem moradora de Planaltina DF. 

Foi a experiência dentro do fast fashion que fez Jessica, do A.MO, expandir seus horizontes.

“Uma das coisas que pude ter certeza foi que a indústria da moda é muito cruel com o meio ambiente e também com os consumidores, o que me fez questionar bastante sobre os meus propósitos”, declara. “Foi então que decidi expandir meu olhar e minha mente. Passei três meses na Europa e lá vivenciei um second hand muito forte. Conheci brechós, feiras e lojas colaborativas incríveis e fiz pesquisas na área quando voltei pro Brasil. Cheia de ideias e também com muitos garimpos, chamei uma amiga para abrirmos o A.MO, juntas iniciamos esse projeto há dois anos e agora eu estou sozinha à frente do brechó”, rememora. 

Como acredita Bethânia, esse crescimento certamente é reflexo de uma sociedade mais preocupada com o meio ambiente. “As pessoas estão mais conscientes e exigentes quanto à questão social e ambiental que envolve seu consumo, hoje o produto tem que agregar valor e o brechó traz custo baixo e um valor socioambiental enorme”, salienta. 

O caminho foi longo 

Por mais que o mercado venha crescendo, se consolidar nele ainda é um desafio. Com, cada vez mais empresários no setor, fazer o seu negócio se consolidar é um processo pouco fácil. “O Primeiro ano foi o mais difícil, na época, tinha uma loja física em Planaltina e eu precisava pagar pra trabalhar. Não tinha lucro nenhum”, conta Nathália Dias. “Logo veio a pandemia e tivemos que fechar as portas. Mas isso não foi o suficiente para desistir, foi quando a gente começou a focar no online e abrimos uma porta ainda maior”, conta, orgulhosa. Foi na pandemia que o brechó foi se consolidando, se popularizando, e crescendo. Há um ano ela toca o 261 sozinha, com um espaço físico na Asa Norte. 

O caminho também não foi, e continua não sendo, fácil para Jessica. “Ainda estamos no processo e ele não termina, vai se modificando e melhorando”, acredita. “Eu busco sempre ouvir mais minhas clientes, me aproximar mais delas e, claro, trazer cada vez mais garimpos e peças incríveis. Não quero pensar que já fiz tudo, sempre tem algo para melhorar, para crescer e aprender”, destaca. 

Assim como elas, Bethânia também enfrentou perrengues para conseguir chegar onde está, tendo o B ao Quadrado como sua fonte de renda.

“Eu não entendia nada sobre gerir uma empresa, então precisei começar do zero e organizar tudo, atualmente ainda sofremos com isso, principalmente no lado financeiro, mas sempre procuro estudar e entender mais sobre cada processo”, finaliza a jovem.

As informações são do Jornal de Brasília

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