Trinta e quatro bilhões e quatrocentos mil reais. Esse é o valor que o mercado pet faturou no Brasil em 2018, de acordo com o Instituto Pet Brasil (IPB). O país é o segundo no ranking global do segmento, atrás apenas dos Estados Unidos. Quando há um recorte para o Distrito Federal, os números também impressionam. A capital representa 1,1% da população pet brasileira, abrigando 650 mil cães, 191 mil gatos e 627 mil peixes ornamentais e aves canoras.
O faturamento do setor em Brasília apresenta crescimento e lucros que impressionam no país, como explica Lizanio de Paula Guimarães, distribuidor de produtos para pets, filiado ao Sindicato do Comércio Atacadista do Distrito Federal (Sindiatacadista/DF). “No DF, temos um mercado em pleno desenvolvimento. Os donos das mega lojas de pet shops dizem que, em Brasília, estão os maiores faturamentos, porque é um local desenvolvido, com moradores de rendas consideráveis e bom acesso à informação”, afirma. Para Lizanio, que está no mercado de vendas há 20 anos, o conhecimento sobre os produtos leva os clientes a consumirem mais. “O consumidor do DF pede por produtos de alta qualidade. O mercado tem serviços, comidas e objetos que mudam muito, vão dos mais simples aos mais diversos. Então, quando se tem informações sobre essas diversidades, se consegue consumir mais e melhor”, detalha.
Médica veterinária e proprietária de uma clínica no Sudoeste, Francielle Borges viu na capital federal e na relação que os moradores têm com os pets a chance de abrir o próprio negócio. “Aqui em Brasília, temos um público flutuante. Muita gente vem transferido, deixou a família fora ou vai ficar pouco tempo aqui, e adquire o animal. Eu não tinha, num primeiro momento, a intenção de abrir um banho e tosa. Sempre fui prestadora de serviço. Mas surgiu a oportunidade de abrir o meu próprio negócio. Então, foi o que fiz”, conta.
O comportamento dos tutores de pets, em Brasília, tem impacto direto no mercado do ramo. Com o passar dos anos, a visão da população sobre os animais foi se modificando e os vínculos passaram a ser mais afetivos, fazendo com que os investimentos em produtos fossem cada vez maiores. É o que opina Daniel Duarte, organizador da PetExpo, evento direcionado para este ramo. “Hoje em dia, as pessoas não têm mais cachorros só para ficar no quintal e vigiar a casa, por exemplo. Elas cuidam como se fosse um membro da família”, diz.
Os gastos, que antes eram só com alimentação e outros quesitos básicos, passaram a ser mais amplos. Serviços se tornaram mais completos, oferecendo diversas opções para os tutores. “Planejando nosso evento, descobrimos um mercado gigantesco. Atualmente, os pets têm gastos com plano de saúde, hotel, casas feitas sob medida, cemitério e crematório para cachorros, joias, roupas, produtos de aniversário e muito mais”, acrescenta Daniel.
Uma região que se destaca no consumo de produtos para pets é Águas Claras, que, neste ano, sediou a segunda edição da exposição. “É um local com público muito jovem, que casa e opta pelo pet para o começo da relação, antes de um filho. E esse amor acaba gerando investimentos com alimentação, roupas, brinquedos e até festas de aniversário”, conta o organizador do evento.
Cuidados
A servidora pública Sueli Assis é um dos exemplos de tutores que fazem questão de investir nos bichinhos. Nina, sua cachorrinha da raça yorkshire, possui uma alimentação natural à base de tilápia, abóbora, chuchu, arroz e vagem. A cadelinha também faz uso de suplementos, como ômega 3, para complementar a dieta, e a orientação alimentar é elaborada por uma nutricionista, que desenvolve um cardápio personalizado para ela.
Sueli conta que a cachorrinha ainda tem o acompanhamento de profissionais como dermatologista, nefrologista e clínico geral. Uma consulta com um desses especialistas, segundo a servidora, sai em torno de R$ 220. “Hoje, eles não são somente um cachorrinho. Fazem parte da estrutura das famílias e exigem rotinas de cuidados especiais, que têm um custo mais elevado”, pontua a servidora. Nina também demanda outros cuidados de sua tutora. Toda semana, a cachorrinha toma banho em um pet shop, onde Sueli paga cerca de R$ 65 pelo serviço. Sem contar os cuidados com beleza e adestramento.
A cachorrinha também fica em uma creche enquanto os pais trabalham. A diária? Cerca de R$ 37. Tudo isso para não ficar sozinha em casa. No local, Nina socializa com outros animais, gasta energia e é adestrada. “Primamos e respeitamos o bem-estar dela, ressaltando a importância de conviver com outros cães”, conta a tutora de Nina.
Os investimentos na yorkshire não param por aí. Quando completou dois anos de idade, Sueli presenteou a cadelinha com uma festa de aniversário. “Vi que era extremamente comum os tutores comemorarem o aniversário do pet. Então, como a creche que ela frequenta disponibiliza o espaço para seus alunos comemorarem o aniversário, resolvi convidar os amiguinhos da creche e os outros mais. Teve bolo, muffins e cupcake feito especialmente para pets. E também refrigerantes, salgados, bolos e doces para os pais”, lembra Sueli. Segundo a servidora, a festa para celebrar os dois anos de Nina custou cerca de R$ 400.
Mas a humanização excessiva dos animais preocupa. A médica veterinária Lorena Campos, 31, vê com bons olhos as novas tendências de cuidados com os pets. No entanto, segundo Lorena, o bem-estar do animal deve estar sempre em primeiro lugar. “Tenho um olhar positivo, mas com algumas ressalvas. Por exemplo, a parte da humanização. Tratar o pet como se fosse um bebê, com carrinho, por exemplo. A gente vê também que o pet sofre com isso, com outras atitudes muito humanizadas, como sapatinho e perfume. Muitas vezes, a gente pega distúrbios de comportamento que são consequências disso”, alerta.
Com informações do Correio Braziliense