A ideia de Lúcio Costa era elogiada por arquitetos e urbanistas: ele queria que Brasília tivesse quatro superquadras, na Asa Norte e na Asa Sul, com unidades de vizinhança, compostas por clubes, igrejas, cinemas e escolas. Foi assim que a capital viu nascer os clubes Vizinhança. O primeiro começou a ser construído com o Distrito Federal e inaugurado em 1961, por um grupo de 107 moradores da 108/109 Sul.
“O clube tem todas as opções que uma associação grande tem, mas é do lado da nossa casa. O nome faz jus ao que ele é, pois é realmente um local da vizinhança. Todo mundo se conhece, mora por perto. Agora que me aposentei, vivo aqui”, diz Ana Maria Esteves, 56, moradora da 302 Sul. A importância do espaço é tão grande que o Clube Social Unidade de Vizinhança Nº 1 foi tombado como patrimônio da capital pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ainda pela Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal.
Berço de craques
Quem pratica qualquer atividade no Vizinhança da Asa Sul tem ainda o privilégio de pisar nas mesmas quadras que consagraram nomes reconhecidos no Brasil e no mundo, como Oscar Schmidt, campeão pelo basquete brasileiro no Pan-Americano de 1987, um dos títulos mais importantes da história do esporte nacional. A escolinha do clube foi o primeiro time do ala.
“O Vizinhança é um grande formador de atletas de Brasília. Além do Oscar, nós tivemos esportistas com renome nacional, como Pipoca, Arthur e Rossi no basquete. Além de outras modalidades, como tênis e caratê. Vira e mexe os atletas que começaram aqui vão para fora do DF e do Brasil. Isso incentiva quem está começando”, comemora Lúcio Soley, 85. Associado há 58 anos, ele conta ter visto muitos craques passarem pelo Vizinhança e diz acreditar que a estrutura do local é essencial para que essa seja uma das marcas registradas.
Do circo ao MMA
Outro clube de mesmo nome e conceito é o Clube Social Unidade de Vizinhança Norte. Localizado na 604 Norte, ele foi fundado em 1968 e carrega identidade focada nas parcerias para fornecer atividades de qualidade aos moradores das redondezas. “Hoje, nós temos dentro das nossas instalações uma academia para quem quer se exercitar, a empresa UBT, que fornece aulas e práticas em escalada, a escola de circo para crianças e adultos e ainda o octógono para atividades do Cerrado MMA”, explica a presidente, Naiara Lourenço.
Os frutos desses incentivos podem ser vistos nas dependências do clube. Viviane Araújo, 32, por exemplo, está quase todos os dias no Vizinhança Norte. Ela começou a treinar luta no local em 2015 e, este ano, fez sua estreia no UFC. “No clube, eu tenho toda a estrutura para treinar, um suporte muito bom, e ainda utilizo a academia, que ajuda bastante. Além disso, o espaço fornece bolsas para alunos de escolas públicas e eu dou aula de jiu-jítsu para crianças de 10 a 17 anos”, diz a atleta.
Ela ressalta que o esporte é fundamental para os meninos. “As atividades são brincadeiras, exercícios bem lúdicos, que ajudam no desenvolvimento e até na disciplina deles. Sem contar que, no clube, as crianças e jovens ficam longe de problemas como a violência e as drogas”, celebra.
Saúde e socialização
A piscina do Vizinhança Norte é responsável por atividades como natação e hidroginástica, mas ficou marcada mesmo é pela amizade formada entre os sócios que frequentam as aulas. “Viramos uma grande família mesmo”, conta Juracy Paiva, 70. Sócia do clube desde 1997, a aposentada fica feliz em dizer que encontrou lá algo que uniu o útil ao agradável. “Tenho que cuidar da minha saúde e fazer meus exercícios físicos na piscina, e acabo me divertindo, criando boas relações. Conheci pessoas queridas, com que me encontro direto e até viajo junto.”
Eliane Ferreira, 50, dá aulas no clube há 24 anos e acredita que o cuidado dos funcionários com os sócios é o que faz o Vizinhança ter uma história tão longa. “Eu me considero mais amiga dos meus alunos do que professora de hidroginástica. Semana que vem mesmo vamos viajar juntos para Aracaju. O que eles não têm em casa, têm no clube. A saúde, o lazer e a socialização são muito importantes para as pessoas da terceira idade”, diz.
As atividades na piscina também estão disponíveis para pessoas de baixa renda que não têm condições de se associar. Para conhecer os termos e se inscrever nas atividades, basta visitar o clube.
A matéria foi originalmente publicada no Correio Braziliense | (Foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)