O voluntariado está arraigado em algumas culturas mundo à fora. Os Estados Unidos são um exemplo. Por lá, não é um fenômeno novo. No século 19, o cientista político e historiador francês Alexis de Tocqueville observou, em seu livro Democracia na América, que os americanos não esperavam pelas autoridades, mas, em geral, tinham o padrão de agir por conta própria. Segundo ele, se um acidente acontece em uma estrada, a tendência é todo mundo se apressar para ajudar a vítima; se uma grande e repentina calamidade se abate sobre uma família, as carteiras de mil estranhos são abertas de bom grado e numerosas doações chegam para aliviar sua angústia”.
Estima-se que há mais de 90 milhões de americanos voluntários. Isso significa que um em cada dois adultos trabalha como voluntário em instituições sem fins lucrativos, o que torna o terceiro setor norte-americano o maior “empregador” da América.
Estes voluntários americanos não encaram este tipo de trabalho como caridade, mas como uma carreira paralela às suas atividades remuneradas, tornando-os conscientes quanto ao treinamento, à capacitação e à responsabilidade por desempenho e resultados. Acima de tudo, eles veem no trabalho voluntário um meio de acesso à realização, à autossatisfação e, principalmente, ao exercício da cidadania.
Nesta sexta, 28, comemora-se o dia nacional do voluntariado. Infelizmente, no Brasil, ainda estamos engatinhando nesta jornada, mas a boa notícia é que a pandemia de 2020 reascendeu no brasileiro um maior interesse pelo tema. E ações e projetos de impacto social e voluntariado têm brotado em escala exponencial país afora.
Outro dia ouvi dizer, numa palestra, que acontece no Brasil um fenômeno curioso: até os traficantes, nas comunidades cariocas, entenderam a necessidade de ajudar; e estão oferecendo às famílias, de suas comunidades, cestas de alimentos, como apoio, para os milhares de desempregados pós-Covid.
Cabe dizer que o trabalho voluntário é importante não apenas pelos impactos causados na vida dos menos afortunados, mas, sobretudo, pelos reflexos que ele exerce na caminhada de quem o pratica.
Num mundo que clama por cada vez mais empatia, este tipo de atividade costuma tornar as pessoas mais tolerantes, sensíveis, conectadas e menos egóicas, promovendo autoconhecimento.
Assumir algum projeto social ou simplesmente tirar um tempo para ajudar o próximo faz com que tenhamos novas experiências e, a partir delas, conseguimos conhecer mais sobre nós mesmos.
Quem ajuda cria noções de que nossas demandas individuais não são o centro do universo e que há muitas dores no mundo que precisam ser identificadas e acolhidas. Dessa forma, todos saem ganhando. As noções de coletividade aumentam, a importância que damos para o bem-estar do outro se torna mais evidente e as barreiras da desigualdade social vão se esfarelando, aos poucos.
O voluntariado é, também, uma ótima maneira de se relacionar e conhecer outras pessoas que pensam como você, criando relações que podem durar pela vida toda. Realizado por vontade própria, pode representar uma inesgotável fonte de realização, autocontrole e autoconfiança.
Em tempos sombrios, com o desemprego em índices alarmantes, pode, ainda, ser uma alternativa para manter a mente em movimento e sentir útil ao bem comum.
Em resumo, o voluntariado enriquece a sociedade, que recebe em troca cidadãos mais conscientes, com valores internos mais verdadeiros e visão mais sistêmica do micro e macro universo. O dia do voluntariado está aí para nos lembrar que só deixaremos de ser um espectro de sociedade quando entendermos a relevância de valores como solidariedade e cidadania. E que a maior recompensa é a oportunidade de mergulharmos dentro de nós mesmos para emergirmos melhores e mais inteiros, retroalimentando a nossa capacidade de servirmos uns aos outros, indistintamente.