Em 2018, com a decisão e as políticas públicas envolvidas no processo de fechamento do Lixão da Estrutural em Brasília (DF), na época o maior aterro da América Latina, houve grande aceleração do setor e a constatação de que os catadores poderiam, sim, se organizar em cooperativas e fazer um bom trabalho para a área da reciclagem brasiliense.
“Nós tínhamos um amontoado de gente que disputava cada metro quadrado, cada caminhão que estava lá e disputava os resíduos para sua própria sobrevivência. Já existia um início de algumas cooperativas, mas que não era uma estrutura organizada, era muito incipiente”, lembra o presidente da Organização das Cooperativas do Distrito Federal (OCDF), Remy Gorga Neto.
Com o fechamento definitivo, o governo do DF criou os Centros de Triagem e precisou dar atenção àquelas pessoas que tiravam a renda do lixo. E, para atuar nesses centros, os trabalhadores precisavam estar organizados.
“Juntou a necessidade de ter a cooperativa para prestar serviço por meio de contrato com o SLU [Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal] e nós, por meio da OCDF e do Sescoop-DF, entramos forte com o apoio para que as cooperativas realmente se organizassem e pudessem prestar contas, por exemplo. Isso foi fundamental para que as cooperativas pudessem, inclusive, remunerar os associados”, explica Remy.
Hoje, no DF, são 23 cooperativas com 717 associados na área da coleta seletiva. Remy ainda destaca que, segundo informações coletadas pela OCDF, as cidades contempladas pelas cooperativas têm um aproveitamento do material para a reciclagem de 70%. Já nas cidades onde empresas privadas fazem o serviço, esse número é de cerca de 40%. “São dados que mostram que as cooperativas deram conta de fazer o que tinha que ser feito”, comemora.
O Distrito Federal, apesar da peculiaridade territorial, é destaque e exemplo para o resto do país com modelos bem sucedidos de cooperativas de trabalho, crédito e agropecuária. E o setor está em constante crescimento: dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro mostram que em 2020, no DF, eram 73 entidades cadastradas com 227.233 cooperados. Em 2021, esse número saltou para 87 cooperativas e mais de 236 mil pessoas cadastradas no sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).
Colaborativo, que respeita a voz de todos e com foco no desenvolvimento. Essa é a base do trabalho desempenhado pelo cooperativismo. No Brasil, já são 4.880 cooperativas que dão trabalho, dignidade e renda para cerca de 18 milhões de pessoas. O setor gerou cerca de 490 mil empregos e chegou ao montante de R$ 700 bilhões em ativos totais.
O presidente da OCDF acrescenta que muitas cooperativas foram constituídas em momentos de adversidade, buscando prover melhores condições econômicas, sociais e de trabalho aos associados. Antes mesmo da crise causada pela pandemia, mais de 70% das empresas do país fechavam as portas com menos de 10 anos de atividade. O movimento conta com 2.535 cooperativas com mais de 20 anos de atuação no mercado.
Como funciona
Uma cooperativa pode ajudar produtores rurais a adquirirem equipamentos agrícolas, por exemplo, ou oferecer empréstimos a juros baixos. Também pode gerar trabalho e renda para inúmeras categorias profissionais como por exemplo, na área da saúde.
Quem define os rumos nesse tipo de negócio são os próprios cooperados. Todos têm poder de voto em assembleias e reuniões. Isso permite que as decisões conjuntas contemplem tanto os interesses coletivos quanto os individuais.
É o que reforça Remy Gorga Neto, que também é presidente do Serviço de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop-DF). Ele, inclusive, sugere para aqueles que desejam ser cooperados ou formar uma cooperativa que é necessário entender profundamente o funcionamento deste modelo societário que se diferencia dos tradicionais, inclusive entendendo os deveres e direitos de cada um.
“Cooperativa é uma organização que tem como objetivo econômico dar resultado, mas é necessário esse entendimento que a cooperativa é um modelo organizacional diferenciado, onde todos são responsáveis. É importante a percepção de gestão responsável e correta e o cooperado tem que atuar junto com ela participando de todas as atividades”, explica.
Há diferentes segmentos do cooperativismo que são classificados conforme o ramo de atuação e as necessidades dos envolvidos:
- Agropecuário: o segmento abrange as cooperativas de produtores rurais e de pescadores, entre outras.
- Crédito: o grupo é composto por cooperativas que prestam serviços financeiros, como empréstimo, financiamento e aplicações.
- Transporte: os cooperados são proprietários dos veículos em circulação. Há modalidades variadas dessas cooperativas – para táxi, ônibus, transporte escolar, frete de mercadorias etc.
- Trabalho, Produção de Bens e Serviços: esse segmento do cooperativismo contempla a prestação de serviços especializados, indo do turismo ao beneficiamento de material reciclável.
- Saúde: associações cooperativas são formadas por médicos, dentistas ou outros profissionais da área.
- Consumo: viabilizam a compra coletiva de produtos ou serviços.
- Infraestrutura: fornece imóveis, energia elétrica, rede de telefonia e outros serviços essenciais.
As regras para o funcionamento estão descritas na Lei nº 5.764/71, que define a Política Nacional de Cooperativismo e no site do Sistema OCB existe uma série de publicações para quem deseja ser cooperado ou montar uma cooperativa.
Com informações Metrópoles