A recessão que assolou o Brasil nos últimos anos provocou uma onda de desemprego e de fechamento de empresas. No entanto, o período coincidiu com o surgimento e a consolidação de tecnologias disruptivas. Graças às novidades digitais e à criatividade, muitos brasileiros conseguiram manter seus negócios, ampliá-los e até contratar mais pessoas.
Disruptivo, adjetivo que vem do inglês e significa inovador, moderno, radical, faz referência à capacidade que algo tem de interromper, de forma brusca, uma ação ou a sequência natural de um processo. Para o diretor de planejamento e gestão da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), José Luis Gordon, a inovação é essencial para o desenvolvimento de uma empresa. “Deixou de ser luxo e passou a ser sobrevivência”, avalia. “Trata-se da chave para evitar a estagnação. Em momentos de crise, a inovação tecnológica é ainda mais importante, pois é forma de se preparar, criar novos mercados e produtos, diminuir custos e enfrentar a situação”, afirma.
Gordon explica que o maior diferencial da tecnologia para as empresas é a atualização, ou seja, a capacidade de passar ao consumidor uma renovação de produtos. “Diversificar o portfólio mantém o espaço no mercado. Isso vale para empresas de todos os portes”, acrescenta.Continua depois da publicidade
A possibilidade de redução dos custos e de ampliação das receitas é a principal vantagem das novas tecnologias, segundo o coordenador do MBA de Marketing e Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Miceli. “Permite criar produtos e implementar novas maneiras de vendê-los, além de melhorar a oferta. Também possibilita diminuir os custos, automatizando processos”, afirma.
Miceli explica que inovação tecnológica também influencia na superação de crises internas e ajuda a passar por momentos de volatilidade da economia, quando a empresa pode ter queda nas vendas. “A empresa que não inova pode causar a falsa sensação de não estar se arriscando. Quando, na verdade, não inovar é ainda arriscar”, ressalta o coordenador, referindo-se à possibilidade da empresa sem inovações ser ultrapassada por concorrentes e perder espaço no mercado.
Apesar da vantagem da competitividade, o uso da tecnologia deixa de ser um trunfo quando não está alinhada à estratégia da empresa, alerta Miceli. “Quando não tem um objetivo claro, pode não ser interessante nem para novos investidores”, ressalta. “Usar a tecnologia de maneira estratégica significa associar as ferramentas à meta do plano de negócio”, ensina.
O especialista aconselha os novos empreendedores a investirem em ferramentas de comunicação massiva, como as redes sociais. “Podem ser utilizadas para criar uma comunidade e aumentar o alcance da oferta. Também servem para conhecer o cliente de uma forma simples e barata”, assegura. Para empresários que já possuem longo trajeto no mercado, Miceli destaca que são outras as prioridades. “A partir da premissa que essas empresas já possuem contato com o público e estruturas consolidadas, a tecnologia serve para automatizar operações básicas.”
Internet
Uma das formas de fugir da recessão econômica é conquistar clientes utilizando websites. Dados de uma pesquisa feita em novembro de 2018 pela Provokers mostram que 96% dos brasileiros usam a internet para pesquisar sobre produtos e serviços oferecidos por pequenas e médias empresas (PMEs). No entanto, 40% delas não têm presença na web, deixando de aproveitar uma grande oportunidade de acelerar seus negócios.
Pensando nisso e também em atuar como uma ponte entre empresa e cliente, o Google oferece o Google Meu Negócio e o Google para PMEs. As duas plataformas são gratuitas e levam ao empreendedor ferramentas para que se mantenham visíveis nas buscas online e para mensurar a visibilidade pelo público alvo. No Brasil, mais de 600 mil pequenos negócios criaram um website com o Google Meu Negócio, um salto de 50% nos últimos 12 meses, explica Fernanda Bromfman, gerente de Google Customer Solutions. “O digital já influencia todos os consumidores, inclusive aqueles que realizam a compra em lojas físicas. Mais de 70% das buscas por produtos acontecem no celular antes de uma pessoa se deslocar até um local físico”, assinala.
A gerente ressalta que, ao usar as plataformas, a empresa consegue garantir que o investimento feito é dirigido ao público correto, por meio da segmentação e da mensuração dos resultados. “Empresas que passaram por dificuldades sempre buscaram a inovação e a criatividade para superar a crise. O digital proporciona instrumentos para o empresário decidir o melhor caminho de forma assertiva e eficaz”, diz.
A beleza de planejar e inovar
A inspiração de criar um ambiente para atender ao público a qualquer momento, sem necessidade de agendar horário, surgiu há vários anos na cabeça da executiva Cláudia Vobeto, 44 anos. Em menos de um ano, desde o início da operação, a rede de franquias Majô Beauty Club possui 36 unidades espalhadas pelo Brasil. No entanto, nem sempre foi assim. Antes de se tornar um sucesso no ramo da beleza por meio de um aplicativo, a empresa passou por longos anos de maturação e de estudo de mercado.
O projeto começou a ser construído em 2006, quando Claúdia desenvolveu um método de depilação menos doloroso e associou ao atendimento sem hora marcada. Dez anos depois, o projeto começou a ser desenhado, enquanto a empresária seguia trabalhando em outra empresa. O período serviu para Cláudia estudar como seria sua caminhada no segmento de beleza. Em 2019, 13 anos após o surgimento da ideia, a Majô saiu do papel e se tornou uma rede de franquias.
Antes de começar o novo empreendimento, Cláudia levou a experiência como consumidora, de receber atendimentos precários em salões e clínicas de beleza. A empresária conta que não encontrava no mercado lugares em que não precisava agendar tratamentos depilatórios e, até mesmo, manicure e pedicure. Hoje, a Majô possui um aplicativo e é especializada em depilação, sobrancelhas, estética e unhas. “Nossa ideia era nos posicionarmos de uma forma diferente, entregando aquilo que as clínicas não tinham nem se preocupavam muito. Quando preenchemos essa lacuna do mercado, despontamos”, comemora.
Revolucionário
Enquanto estudava o plano de negócio da Majô Beauty Club, Cláudia trabalhava como sócia em uma rede de franquias também do ramo de beleza, com mais de 70 unidades. Lá, a empresária vivenciou momentos em que a situação econômica do país declinou, sobretudo nos anos 2014 e 2015. “Os momentos de crise são ideiais para aprender a gerir e revolucionar o negócio. Quando está crescendo e o cenário está tranquilo, a gente acaba se acomodando”, afirma. “Quando há a necessidade de mudar, impulsionado pela economia frágil, o empreendedor começa a rever custos e processos”, assinala. As principais alternativas para revolucionar um negócio no meio da recessão foram a renegociação com fornecedores e a reinvenção de processos antigos.
Os maiores ensinamentos que Cláudia obteve da crise foi como seguir a intuição com a intensidade e velocidade corretas. “É preciso saber quando agir e o que trazer ao mercado no momento certo”, diz. “A intuição fala muito alto, mas precisa ser comprovada com dados técnicos e profissionais. Toda transformação só é possibilitada com um bom embasamento”, ensina.
Cláudia afirma que o futuro empreendedor deve, além de analisar profundamente o mercado, contratar fornecedores em que confie e sempre manter atualizado o plano de negócios. Ela também ressalta a importância de capital de giro. “A maioria dos negócios não quebram por falta de cliente e, sim, por fluxo de caixa insuficiente para dar continuidade na entrega. Não é possível oferecer algo sem capital. É preciso estar preparado para ficar um bom tempo sem retirar renda do negócio”, conta.
Ao longo de 2019, a Majô Beauty Club investiu mais de R$ 1 milhão em inovação, que envolveu, além da tecnologia do aplicativo, o lançamento de 27 produtos químicos e cosméticos. O objetivo é ampliar o negócio para 100 unidades franqueadas por todo o país até 2021. “Trabalhamos na expansão a partir da avaliação do mercado nos locais em que os franqueados demonstram interesse”, explica. “Antes de iniciar o processo, verificamos se o candidato possui o perfil e se tem condições de manter o negócio. Também avaliamos se é algo para transformar a vida daquele empreendedor.”
Com informações do Correio Braziliense