Por Lina Bocchi*
Não é novidade que a pandemia trouxe à tona diversas questões sociais, principalmente em relação a pessoas e comunidades em situação de vulnerabilidade. Enquanto o nosso país via os números de doações declinarem em 2019, no auge do Covid-19 as doações dobraram, com investimentos sociais por empresas saindo de uma média de R$ 3.25 bilhões para R$ 6.5 bilhões, segundo a Pesquisa Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC).
Hoje, 2022, infelizmente já sabemos que o ritmo de doações desacelerou, muito em detrimento da crise econômica que assola o país. Porém, o que a pandemia nos mostrou foi muito além da comoção social com a necessidade do outro; os dados revelam um potencial muito grande de doadores e voluntários no Brasil, acendendo a chama de que a Cultura da Doação pode sim ser uma realidade nacional.
Esse movimento nada mais é do que enraizar a doação e o voluntariado como parte ativa da nossa cultura. Além do comportamento ligado às pessoas e empresas enquanto potenciais doadores, a transparência das organizações sociais é essencial, visto que um dos maiores impedimentos dos doadores é a dúvida relacionada à destinação do recurso doado. É essa clareza que vai garantir ao projeto credibilidade para continuar e ampliar sua atuação na comunidade e até crescer internamente – evolução fundamental para manter a organização sustentável.
Atuando diretamente com o Terceiro Setor, sabemos que é imprescindível para as instituições mostrar transparência por meio de um nível de organização e controle, que pode ser executado com processos simples como anotar nomes, contatos atualizados, fotos das entregas e relatório de recebimentos e prestação de contas. Quando esta ponta é fortalecida, as demais também podem ser amarradas, mas claro, apenas se fizerem a sua parte.
Precisamos falar sobre doações com nossos pares, amigos, vizinhos. Precisamos trazer visibilidade às campanhas e projetos nas nossas redes sociais, ampliando o alcance das instituições que conhecemos ou das causas com as quais nos identificamos. Precisamos de empresas comprometidas com o impacto social que causam além de seus próprios muros. E, além disso, precisamos entender que a doação não acontece somente no âmbito financeiro – o voluntariado existe enquanto doação de tempo, tão importante quanto o recurso monetário. Aguçar a percepção em relação ao outro é o primeiro passo para fortalecer nossa Cultura da Doação.
*Lina Bocchi
Analista de relacionamento do Instituto Conecta Brasil