Por Marcos Freitas Pereira
No dia 22 de março de 2023, a Diretoria do Banco Central do Brasil (BC) reuniu-se na reunião do COPOM para definir a nova taxa de juros do Brasil a vigorar nos próximos 45 dias.
Havia uma expectativa muito grande no resultado dessa reunião. O BC manteria os juros ou reduziria os juros? Por um lado, o setor produtivo da economia; os ministérios econômicos do governo Lula e alguns economistas de renome como o Nobel Joseph Stiglitz pediam a redução da taxa básica de juros para que a economia possa voltar a crescer, e por outro lado, o mercado financeiro e jornalistas neoliberais que defendem a economia financeira apostava na manutenção das taxas de juros dizendo que a inflação ainda não está sobre o controle e que o governo não havia divulgado ainda o plano fiscal.
É importante uma explicação entre a diferença de atuação entre os BC´s do Brasil e dos Estados Unidos, o do Brasil tem apenas o objetivo do controle da inflação, enquanto nos Estados Unidos, O BC tem dois objetivos: o controle da inflação e o crescimento da economia. E para atingir o objetivo o BC do Brasil utiliza como ferramenta básica a taxa de juros básica da economia.
Depois de tanta expectativa o resultado saiu na noite do dia 22 de março de 2023, o BC manteve a taxa básica em 13,75% ao ano e se não bastasse, disse em nota rápida, pois a ata da reunião sairá nos próximos dias, que não há nenhuma expectativa de redução das taxas de inflação no futuro, e não entende que a taxa de inflação esteja reduzindo-se ou sob controle.
Vamos analisar esse despacho do COPOM quando decidiu manter as taxas de juros no mesmo patamar.
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O gráfico acima apresenta a evolução da variação do IPCA, medida oficial da inflação brasileira e a evolução da taxa de juros básica da economia denominada SELIC.
Constatamos no gráfico que há uma correlação muito grande entre as duas variáveis, quando a inflação sobe, a taxa de juros sobe também, o contrário também acontece, quando a taxa de inflação cai, a taxa de juros cai também, existe uma defasagem de tempo de aproximadamente 9 meses para que uma alteração da taxa de juros possa afetar a variação da inflação, segundo especialistas do assunto.
Entre 2011 e 2012 o IPCA caiu e a taxa de juros também caiu, porém, a partir de 2013 até 2015 o IPCA cresceu de 5,91% para 10,67%, o governo Dilma teve que aumentar a taxa de juros de 10% ao ano para 14,25% ao ano. Esse crescimento da taxa de juros surtiu efeito, pois a inflação de 2016 reduziu para 6,29% e em 2017, já no governo Temer, reduziu para 2,95% a menor taxa dos últimos anos.
Ainda no governo Temer, com a queda da inflação a taxa de juros da economia chegou ao seu menor patamar de todos os tempos, 2% em 2020, e nesse ponto chama a atenção o erro do BC, pois nesse ano, conforme gráfico há uma inversão entre as variáveis, inflação subindo e taxa de juros reduzindo. Com esse erro o BC perdeu o controle da inflação que subiu para 10,06% em 2021 no governo Bolsonaro que fez o BC subir as taxas de juros para 9,25% em 2021 e 13,75% em 2022.
Agora com a decisão do COPOM do dia 22 de março, o BC comete o segundo erro nesse período analisado, a inflação de 10,06% em 2021, que chegou a 12% anual no decorrer de 2022, reduziu para 5,79% em 2022 e hoje anualizada está em 5,63% (base fevereiro 2023). E mais uma vez no gráfico constatamos a inversão entre o IPCA e a SELIC, ao contrário do que aconteceu em 2020, agora a taxa de juros sobe, ou mantém-se elevada e a inflação reduz.
Portanto, não há justificativa para tal decisão do BC em manter as taxas de juros atual, os argumentos técnicos utilizados pela diretoria não convencem o mercado produtivo. Há sim uma tendência de queda na inflação, principalmente se considerarmos a previsão do comportamento dos preços dos alimentos para os próximos meses, o preço da carne é um exemplo disso.
Os 13,75% de taxa de juros com uma inflação de 5,63% resultam em juros reais da economia 7,7% ao ano, a maior taxa de juros reais do mundo. Isso favorece a quem? Aos empresários da economia real? Com toda certeza não, favorece sim ao mercado especulativo, favorece aos “donos da verdade” da Faria Lima e aos economistas que os defendem.
Se por um lado, esse patamar de juros prejudica a economia real, provocando possível recessão, por outro lado, piora ainda mais a situação fiscal do Brasil, a relação dívida pública e PIB deve crescer 6 pontos percentuais (diferença entre os juros reais e o crescimento do PIB). Esse fato tornar-se até secundário a discussão do déficit primário previsto entre 1% a 2%.
Para o bem do Brasil, para o bem da produção real do PIB, o BC deve sim sofrer todas as críticas necessárias para que daqui 45 dias possamos ter outro resultado na reunião do COPOM.
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Marcos Freitas Pereira
Natural de São Paulo, acumula mais de 40 anos de experiência no mercado. Doutorando em Turismo, Mestre em Finanças e economista. Fundador e atual sócio da AM Investimentos e Participações que investe em clínicas médicas, turismo, gastronomia e lazer e entretenimento. Foi também fundador da WAM Brasil maior comercializadora de multipropriedade turismo imobiliário do mundo.