Comunicação de Causas: tendência da moda ou agente de transformação da realidade?

Flavio Resende

Flávio Resende é brasiliense, empresário da área de Comunicação e jornalista, com passagem pelos principais veículos de comunicação da capital federal. Especialista em Jornalismo Econômico, Comunicação Empresarial e Varejo, âncora um programa semanal de rádio sobre Empreendedorismo e escreve para sites, revistas e jornais do país sobre Economia e Negócios.
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Uma das tendências mais marcantes da nova economia – que nasce alicerçada não apenas sob o lucro financeiro, mas sobretudo nos impactos que as organizações podem causar na sociedade e no meio ambiente – são as empresas alinhadas a causas.

Neste sentido, adotar uma ou mais causas exige um movimento de diálogo com a sociedade  – que é efetivamente onde as causas surgem e para as quais são voltadas -identificando quais delas refletem o propósito da organização.

Isso tudo faz ainda mais sentido quando entendemos que o mundo tem convivido, nos últimos tempos, com os efeitos de uma pandemia e trabalhado para, de alguma forma, materializar a Agenda 2030, uma ambiciosa iniciativa global que estabelece 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável que deverão ser implementados até 2030.

Assim, as empresas têm o papel crucial de avançar na concretização desses esforços e impedir retrocessos que, inclusive, colocam em xeque a sobrevivência da própria humanidade.

No entanto, não basta também pensar nos impactos sem levar em conta a comunicação por trás deles. Um processo efetivo de comunicação garante o diálogo, o engajamento e o compartilhamento de boas práticas, entre outros resultados. É aí que entram as ferramentas de comunicação de causas, que podem ajudar a tornar o compromisso e as ações mais estratégicas e sustentáveis.

O grande desafio é, portanto, agregar causa, propósito, sustentabilidade e comunicação para que cada passo esteja amarrado e faça sentido para todos os envolvidos.

A ideia de que a sociedade atual experimenta um momento de falta de ordem e “decadência moral generalizada” em diversos âmbitos e setores da sociedade – desde o familiar até o público e também em escolas e na política – foi uma das principais descobertas da pesquisa O Conservadorismo e as Questões Sociais, realizada pela Fundação Tide Setubal, em parceria com o Plano CDE.

Alguns achados deste estudo dão conta de que a comunicação foi identificada como um dos principais desafios e dores no ecossistema de impacto social, que desconhece e tem dificuldade de dialogar com seus stakeholders.

A Comunicação de Causas pode ser definida, assim, como o trabalho de colocar um tema na agenda da sociedade, mobilizar os convertidos, conquistar os indiferentes e influenciar os tomadores de decisão com o objetivo de mudar a realidade social, cultural, econômica e ambiental por meio da sensibilização do público e de mudanças nas políticas públicas. Na prática, é usar diferentes estratégias da comunicação para gerar mudanças positivas na sociedade.

Nosso papel como especialistas em Comunicação de Causas é dar destaque para um tema, fazer com que a sociedade enxergue problemas sociais ou soluções que têm pouca visibilidade e oferecer informação especializada para qualificar o debate público. Com mais pessoas discutindo aquele determinado assunto, há mais chances de gerar mobilização, tanto de cidadãos quanto dos formuladores de políticas públicas.

No final das contas, o que se vem percebendo é que o público está cada vez mais amadurecido para enxergar incoerências no discurso e na prática das organizações. Preservar sempre a verdade, considerando os valores éticos; inspirar mais pessoas com histórias efetivamente inspiradoras; ter coragem para falar sobre assuntos desconfortáveis, lançando luz sobre problemas sociais que são “invisibilizados”; e ajudar a combater injustiças e preconceitos são alguns caminhos possíveis. Tudo isso atrelado à inclusão, isto é, à necessidade de falar diretamente com as pessoas, usando linguagens didáticas e mesclando diferentes formatos de conteúdos (como textos, fotos, vídeos, gráficos, entre outros) e à educação, que estabelece um papel pedagógico com o público por meio de ferramentas, conteúdos e fontes, que geram reflexão e oferecem subsídios para debates mais qualificados.

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